À saída do aeroporto


Tínhamos acabado de recolher as respectivas bagagens e faltava apenas fazer o câmbio para sairmos do aeroporto e estarmos finalmente na Índia. Tudo era uma grande emoção para mim. É certo que a viagem já tinha começado há umas longas horas, mas o pé na Índia ia então acontecer. Apetecia-me agarrar aquele momento e prendê-lo de forma a ficar intacto, cristalizado, para nunca se perder.

Todos iam saindo e eu queria muito, mas ia protelando aquele instante, porque talvez não voltasse a passar por aquela emoção. Mas eis que é chegada a hora e lá vou eu empurrando o carro com a bagagem. Passava da meia-noite e estávamos todos estafados. 

É chegada a minha vez e estou a sair. Todo o universo estava comigo. Era o momento crucial, pôr o pé na minha Índia. Ainda não era bem aquela, mas era quase. Já estivera mais longe. Dali a uns dias estaria em Gôa e essa sim, era a minha terra de verdade. Mas já me sentia realizada por estar em Nova Delhi. As portas de vidro automáticas abriam-se e era só mais um passo. Grande emoção! Eu olhava lá para fora e só via algumas pessoas à espera de amigos e familiares e não via nada no horizonte. Achei que todos os indianos deviam estar à minha espera para me darem as boas vindas (!)... mas não. Contudo, em pensamento, toda a Índia estava comigo ou não (?)... mas eu estava. Naquele momento acabava de regressar às origens.

Um pé já estava. Faltava o outro, que também já estava. Cabeça, tronco e membros. Estava inteira, no lado de fora do aeroporto. Estava na Índia! Era só no que eu pensava. Um passo e outro e mais outro... um calor desgraçado, um ar irrespirável e um cheiro esquisito no ar. Devia ser das máquinas do ar condicionado a tirar o ar para fora ou qualquer coisa no género. Mais um e outro passo e aquilo não passava. Eu já estava a transpirar e sentia-me sufocada. Que diabo era aquilo?!

Corro na direção contrária e entro novamente no aeroporto. Respiro fundo. Sinto-me aliviada. O que seria? Bom... há que continuar para não perder os outros. Além disso, o autocarro espera-nos. E lá vou eu pela segunda vez, agora refeita daquele incómodo. Já sei que vai custar um bocadinho, mas depois há-de passar. Mentira. À medida que caminhávamos o ar era mais pesado, mais quente e saturado de uma mistura de cheiros indescritível. Um horror! Um pesadelo! Isto é sempre assim, a minha Índia?... Hei-de sobreviver. 

Finalmente o autocarro estava à nossa frente. Uma carroça velha, onde a bagagem quase não cabia, mas lá entrámos. O ar condicionado voltava e todos voltávamos a respirar aliviados. Aí vamos nós.