No Hotel


Na chegada tardia a Nova Delhi, depois do caminho percorrido pelo nosso estafado autocarro, por aquelas estradas servindo de cama a tanta gente, ao mesmo tempo que íamos entrando pelas ruas cheias de lixo que conduziam ao hotel, o que todos queríamos era deitar e dormir. De modo que, mal demos entrada na receção, puxando pelas respetivas bagagens, fui ligeirinha ao balcão para conseguir rapidamente a chave do quarto e nos podermos acomodar, a Mina e eu, minha companheira de quarto.

 

Com a chave na mão, um rececionista indicou-nos o caminho e ajudou-nos com as malas. Olhei em volta e dadas as circunstâncias, achei que não estávamos mal de todo. O quarto era amplo, com janelas enormes e cortinados de veludo surrado a cair por todos os lados. Um aparelho de ar condicionado muito maltratado, que se escondia por debaixo das janelas, quase junto ao chão, mas que funcionava, o que era menos mal. Assim que ficámos sozinhas ajeitámo-nos e abrimos as malas, tentando dar uma arrumação provisória, posto que seriam apenas duas noites ali.

 

Um banho, era tudo o que precisávamos para dormir. Havia água com abundância, pelo que o duche soube muito bem e eu já estava deitada a saborear o merecido descanso, quando a Mina resolveu ir mais uma vez à casa de banho. Então, aconteceu um imprevisto. Baralhou-se e ao puxar o autoclismo, não só se enganou na torneira, como ficou com ela na mão. Assim, quando pensávamos que finalmente tinha chegado a hora do sossego, mentira, parecia que um tsunami tinha entrado pelo quarto dentro.

 

A Mina gritava que a torneira tinha ficado na mão dela e não sabia o que fazer, com quanta pressão a água saía. Num impulso, levantei-me a socorrê-la. Peguei na torneira e encaixei-a no sítio, mas não era o suficiente. Gritei-lhe que fosse à receção chamar alguém, enquanto eu ficava a segurar o manípulo, tanto quanto possível, para travar a saída da água que jorrava fortemente. Entretanto, a casa de banho já estava toda inundada e a água começava a passar para o quarto.

 

Pouco tempo depois voltou, seguida de um empregado, que logo resolveu o problema. Mas em seguida entrou outro, que veio limpar o chão e depois mais outro com um balde e outro com uma vassoura e outro com não sei o quê; outro que não fazia nada, tinha ar de inspetor e outro e outro... era um nunca mais acabar de empregados e cada um perguntava se precisávamos de alguma coisa e se estava tudo bem, enfim... e nós não entendíamos nada daquilo. O que faziam todos aqueles homens no nosso quarto, tão solícitos e prestáveis? Parecia que todos os empregados do hotel se tinham concentrado ali. Por mais que tivéssemos agradecido e disséssemos que já estava tudo bem, eles não descolavam de maneira nenhuma, com aquela cara de falsa humildade e pior ainda, falsa seriedade. Até que, de repente, vi as nossas figuras refletidas no espelho e percebi o que se estava a passar. Gritei, "Mina... estamos quase nuas!"

 

As camisas de dormir curtíssimas, leves e já de si transparentes, com a água que apanhámos, estavam um pouco coladas ao corpo, mas com o calor, não dávamos por nada. Claro que os homens não arredavam pé dali e inventavam mil e uma coisas para obterem mais a nossa atenção. A Mina ria a bandeiras despregadas e eu com cara de malvada, tive que correr com aquela gente toda. Quando finalmente os pus dali para fora e fechei a porta, atirámo-nos para cima das camas e rimos às gargalhadas, pensando no que mais iria acontecer!?


Estávamos na Índia!...