A Índia é um país de
contrastes profundos onde, contrariamente ao resto do mundo, o homem
não vive do que é nem do que tem. Num modo passivo ou activo, a existência
é a única coisa válida e não existe um meio termo para nada. Palácios
deslumbrantes, templos de uma riqueza incalculável, contrastam em flagrante
com casas degradadas, sem portas nem janelas, varandas a cair e casas
que nem existem. Jardins imaculados, verdejantes, floridos, bem arranjados e
lugares feios, sujos, imundos, onde o lixo nunca acaba e a
podridão abunda. Cheiros exóticos, incensos de aromas irresistíveis e ruas mal
cheirosas, bolorentas, cheias de esterco, contaminadas. Pessoas bonitas, com ar
saudável e bem alimentadas e outras que só têm ossos e pele enrugada, que
nunca comem. Homens e animais vivem em perfeita harmonia e o
sagrado e o profano convivem lado a lado. O negro e o branco contrastam
profundamente com a riqueza dos padrões transbordantes de côr, iluminando
os rostos morenos de olhos de um brilho intenso e único.
Na Índia regressei às
minhas origens. O meu ser mais genuíno aflorou, para voltar a
ser simplesmente eu. Despi-me de regras, preconceitos e artifícios, falei
de novo a minha língua materna. Vivi o sonho dos marajás e o pesadelo dos
intocáveis. Algumas vezes me senti perdida, completamente despedaçada e incapaz
de dar mais um passo. Outras vezes a minha alegria era tão intensa e
contagiante que a minha energia parecia inesgotável. De Nova
Deli a Jaipur, Agra, Khajuraho e Varanasi (a cidade
sagrada), Bodhgaya, Calcutá, Gôa e Bombaim, foram noites mal
dormidas, viagens cansativas, comida pouco convidativa, calor, humidade,
chuva, tudo foi superado e encarado num clima de desportivismo e aventura
constante.
A Índia, tão odiada
quanto adorada, que em seu seio encerra segredos eternos, amores imortais, de
reis e rainhas revestidos de ouro e indigentes cobertos de
poeira, sem identidade e sem morada, superpovoada de
crianças maravilhosas, meninos e meninas de todas as idades, pequenos Krishnas que
nos enfeitiçam com o seu sorriso e a sua doçura, a Índia
que eu amo, mágica e sedutora, eterna, onde se respira o bafo
quente misturado com o cheiro das especiarias, viverá sempre no meu
coração.
Olá, Luísa. Gostei muito do teu texto e das fotos mais abaixo. Felicidades para o blogue. Já me tornei tua seguidora. Beijinhos.
ResponderEliminarMuito interessante, um apanhado da Índia e de alguns sentimentos pessoais que adorei ver descrito neste post! Gostei muito!!
ResponderEliminarLuisa, Parabéns!
ResponderEliminarAchei o blog muito giro, até o modelo escolhido encena muito bem a sua questão de viagem e retorno, as pequenas fotos e os curtos filmes, ficam muito melhor no blog, a maior parte filmados em "travelling" transmite a voragem da viagem do estrangeiro, que corre, percorre e procura fixar uma memória, a personagem principal é aquela sobrepopulação, que contracena consigo, que desfila nas imagens, que sobrevive no caos, que não pára de aumentar...
Os seus dois parágrafos ficam a ecoar, em quem a conhece a si e da Índia só tem umas ideias.
Não podia ter ficado melhor.